quarta-feira, 16 de maio de 2018

[CONTO] DESPERTAR DO AMOR - CARLA BLACKHAWK

[CONTO] DESPERTAR DO AMOR

CARLA BLACKHAWK




Rebeca sempre quis ser orgulho dos pais musicistas... mas o violino, a quem tanto amava, era seu inimigo. Pedro surgiu num momento oportuno... Poderia o amor e a música desabrochar em sintonia?



PRÓLOGO

_Quem está tendo o desplante de assassinar a música?
Todos pararam de tocar seus instrumentos e todos os olhares se dirigiram a ela:
_Sim, a Rebeca atrapalhada...
Rebeca falou baixinho e suspirou. O que acontecia com ela? Amava a música de paixão, mas o que saía do seu violino não era música, era o som de um gato namorando no telhado.
_Desculpe, professor.
Orlando respirou fundo e recomeçou. Como ela ia participar do recital de talentos se não conseguia tocar uma nota afinada?
Sem que ninguém percebesse, ela saiu de mansinho da sala.


CAPÍTULO UM

_Mãe, o que a Rebeca tem? Já faz mais de uma hora que ela ta ali, parada, com o violino na mão, como se ele fosse uma cobra venenosa...
Clara olhou para a filha e respirou fundo, resignada.
_Sua irmã ainda está tentando tocar o coitado, meu filho. Mas com esse não talento todo... Já sabe.
Clara e Gilberto, pais de Rebeca, e Junior e Belinda, irmãos, eram artistas renomados no meio musical. Sempre requisitados, tocavam em muitos lugares e eram sempre convidados para gravar músicas, inclusive de artistas internacionais. 
_Queria poder ajudar...
Clara sorriu para o filho.
_Eu também, meu filho. Mas esta na hora dela aceitar que talvez a música não seja seu dom...
Rebeca levantou de repente e foi para seu quarto. Alguns minutos depois, um som parecido com cordas de violão sendo torturados encheu o ambiente.
_Misericórdia, mãe, dá um jeito na Rebeca! Ela ta assassinando a música e nos deixando surdos!
_Para de ser implicante, Belinda!- o pai, Gilberto, chegava com as mãos nos ouvidos.- Pode dar um jeito, amor? Quero tentar assistir o noticiário...
Clara bufou e foi até a filha. Bateu na porta.
_Filha?
Rebeca olhou a mãe.
_Já sei, o gato namorando no telhado...
_Na verdade parece um tigre com tosse de cachorro...
_Mãe!
Rindo, Clara sentou-se ao lado da filha.
_Desculpe, filha. 
Ela colocou o violino de lado.
_Seja sincera, mãe: acha que devo desistir de tocar? Talvez fosse melhor ser uma secretária, uma veterinária, ou mesmo advogada...
_Sabe muito bem que não se dá com nada disso.
Com os olhos cheios d água ela olhou para a mãe.
_Qual minha praia então? To tão perdida... Eu amo o violino, mas ele não me ama, ao que parece...
Clara pôs uma mecha de cabelos dela atrás da orelha.
_Você não é obrigada a ser musicista só porque todos da família são... Entende isso?
Rebeca levantou-se.
_Não faço isso pela família, mãe, pra ser aceita... Sei todas as notas de cor, sei ler as partituras, mas...
_Não gostaria de tentar outro instrumento?
_Não. Sou apaixonada pelo violino e esse traste não me quer... Isso porque nem traste tem...
Clara pensou um pouco.
_Acho que podemos fazer mais uma tentativa... Mas me promete uma coisa?
_O que?
_Se você não tiver êxito, promete que tenta outra coisa?
Rebeca baixou a cabeça.
_Prometo.
“Não prometo não!”


CAPÍTULO DOIS

_Rebeca atrapalhada? 
Cesar olhou para seu filho, Pedro.
_Sim... ela é filha de um renomado violonista, e me parece que não tem muito talento...
_E porque que insiste se não tem talento?
Cesar resumiu a vida da família.
_Certo... E cabe a mim dizer a ela se tem talento ou não.
_Temos amigos em comum... Não poderia dar umas aulas e dispensar, se realmente a menina for um desastre?
Pedro era um dos mais respeitados professores de música e atualmente morava na Rússia.
Depois de pensar por um momento, ele concordou.
***********************
Não era a toa que ela era chamada de Rebeca atrapalhada. Mal abriu a porta e ela já tropeçou no tapete de entrada e foi segura por braços fortes, muito fortes. Ao olhar para cima, foi surpreendida por um par de olhos tão verdes que pareciam neon. Os cabelos, castanho-escuros contrastava com o as sobrancelhas espessas, que combinavam com seu queixo quadrado e...
_Ta tudo bem?
Ela endireitou-se e tentou sorrir.
_Desculpe, eu tropecei...
Ele deu um sorrisinho torto.
_Eu percebi.
Ele era alto e musculoso. Sentiu-se, além de péssima musicista, uma desengonçada perto dele. Muito magra, poucos seios. Fazer o que.
Ele conversou com ela um bom tempo e testou suas habilidades musicais. Ficou impressionado com tanto conhecimento.
_Sabe muita coisa.
_Eu... eu estudo bastante.
Ele a encarou por uns momentos e ela arregalou os olhos.
_Toca um pouco pra eu poder te avaliar.
Nervosa, abriu a caixa e quase derrubou tudo no chão. Deu um risinho nervoso e posicionou o violino.
_Deus... – ele sussurrou.
Aos primeiros acordes, Ioshi, o gato vira lata dele, soltou um miado estranho e saiu correndo, assustado.
_Ok, ok, pode parar. Tenta tocar outra coisa.
Dessa vez o gato arreganhou os dentes e atacou a perna dele.
_Calma, Ioshi!
Sem graça, ela parou de tocar e baixou o rosto.
_Acho que minha mãe tem razão... Talvez essa não seja minha praia...
Colocando o gato de lado, ele ergueu o rosto dela com os dedos.
_Todos tem o direito de tentar fazer aquilo que dá prazer, entendeu?
Prazer... Sim, ela sentiria muito prazer com ele, quer dizer, com a música.
Ficaram naquela posição alguns minutos e uma química acertou em cheio os dois. 
_Podemos começar como se você fosse novata - ele tirou os dedos do rosto dela e levantou-se – topa?
Ela levantou-se e sorriu.
_Claro!
Ele estendeu a mão e ela também.
Choque. Puro choque.


CAPÍTULO TRÊS

2 meses depois...
Pedro estava ficando louco com aquele som horrível que saia do violino dela.
_Para!
Ela bufou.
_Ta horrível, eu sei.
_Você não está treinando em casa, como combinamos?
_Eu to, óbvio! Minha mãe disse que vai colocar caixas de ovos no meu quarto pra abafar o som de tão horroroso...
Pedro desatou a rir. Rebeca foi junto.
_Pedro - ela tocou sua mão - sou um caso perdido. Talvez minha mãe tenha razão...
Pedro olhou para aqueles olhos amendoados tristes... Capturou pequenas sardas no seu nariz, a boca pequena, os cabelos escuros...
_Vou desistir do recital. Pensei muito a respeito e conclui que estou fazendo minha família passar vergonha... Eles são tão talentosos e eu... 
Ele colocou seu dedo nos lábios dela.
_Fala muita bobagem pra quem é tão inteligente.
Aproximou-se dela e a beijou. Um toque sutil, mas que incendiou e transformou-se em labaredas em questão de segundos.
_Não sei quanto à você, mas pode ter certeza que vou tirar toda sua roupa e beijar cada canto dele.
Sua voz sussurrada causou arrepios nela.
_Eu adoraria.
A pegou no colo e a levou par o quarto. Já nus, ele a olhou bem profundamente.
_Não posso te prometer nada... Apenas essa vez.
Ela engoliu em seco. Estava apaixonada por ele, o queria para sempre em sua vida. Mas aceitaria o que ele estava oferecendo.
_Tudo bem...
Foi um momento mágico. Pedro a levou em lugares que ela nunca tinha estado... Por um momento ela esqueceu que era a Rebeca atrapalhada e sentiu-se Rebeca, a princesa.
Mais tarde, ela guardou o violino. 
_Recebi uma mensagem enquanto você estava no banho.
Ela gelou.
_Preciso voltar pra Rússia. Karina minha... Bem, Karina precisa que eu volte urgente pra lá.
Ela pensou em discutir sobre ele ser comprometido e fazer amor com ela, mas suas forças estavam drenadas.
_Claro. Obrigada pelas aulas e... bem, obrigada.
Pegou o violino de forma errada e a caixa caiu no chão.
Ela riu, triste.
_Rebeca atrapalhada...
Saiu em disparada antes que ele a visse chorar.



CAPÍTULO QUATRO

Seus pais nunca mais a ouviram tocar o violino em meses. Não fizeram nenhuma pergunta, mas sabiam que algo tinha acontecido.
_Vai ao recital?
Rebeca sorriu para a mãe.
_Claro, vocês vão tocar e eu sou tiete da minha família.
_Você está bem, minha filha?
_To sim, mãe, não se preocupe.
Todas as tardes ela saía e ninguém sabia praonde. Gilberto e Clara estavam estranhando o comportamento da filha.
No Show de Talentos, Gilberto e Clara, acompanhado dos filhos, fizeram a abertura. E logo começaram os candidatos, tocando variados instrumentos.
_E nosso último candidato, ou melhor candidata... Rebeca Martins!
O auditório todo se calou e os pais dela arregalaram os olhos.
_Mãe, pelo amor de Deus, vão pensar que ela ta matando os gatos da região!
_Fica quieta, Belinda!
Rebeca aproximou-se do microfone e pigarreou.
_Gostaria de dedicar essa peça a uma pessoa especial, que me ensinou a ser uma pessoa melhor, que me ensinou a acreditar em mim.
Gilberto fechou os olhos e esperou o desafino. Mas o que ele ouviu foi a mais linda melodia tirada das cordas de um violino. Olhou para a filha, serena em cima daquele palco e emocionou-se. Em todos os anos como músico, nunca tinha ouvido som mais harmonioso.
Ao terminar, ela abaixou o violino, mas não abriu os olhos. Um som mais melodioso ainda se fez ouvir. Ela abriu os olhos e viu Pedro vindo em sua direção, tocando uma música que falava de uma mulher forte, que tinha mudado a vida de um homem. Assim que ele chegou perto, ela recolocou o violino e o que se ouviu foi uma perfeita harmonia entre os dois. Ao final, a platéia explodiu em aplausos.
_Você voltou...
Ele sorriu enquanto pegava no queixo dela.
_Voltei pra minha Rebeca atrapalhada. Mas parece que você andou treinando sem mim...
Ela fez que não.
_Treinei com você nos meus pensamentos... O amor me transformou. 
Virou o rosto quando ele foi beijá-la. Ela fez não com a cabeça.
_Quem é Karina?
Ele riu e beijou seus lábios.
_Minha irmã. 
_Hum, então, posso dizer que não sou mais a Rebeca atrapalhada, e sim, Rebeca apaixonada.
_E uma Rebeca muito amada também!
Beijaram-se ao som de aplausos, muitos aplausos e assobios.
Saíram do palco após cumprimentar a platéia, não sem antes Rebeca tropeçar no fio do microfone


EPÌLOGO

A Rússia receberia, alguns anos depois, mais um cidadão. Felipe, filho de Rebeca e Pedro nasceria em meio à primavera Russa, cercado de toda a família. Obviamente ele nasceu após ela levar um tombo na calçada. Ambos passam bem.

FIM!


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Layout por Flavinha Garota de Aquario.