Eu não me recordo bem quando tudo começou... Sempre fui muito ansiosa e foi isso que deu início ao meu martírio. Sim, é um martírio sentir coisas que não são de verdade...
Pode não parecer, mas eu sempre fui meio melancólica. Era a palhaça da turma, sempre com tiradas e piadas prontas... Tive uma infância feliz até os 10 anos, até que meu avô morreu... Após isso a realidade atingiu em cheio minha adolescência, com problemas familiares. Adivinha quem sempre entrava no meio? Eu. Era um imã, sempre tentando resolver as coisas dos adultos, sempre preocupada, sempre, sempre, sempre. E o peso... esse sempre me deixava pra baixo. Eu era sem formas, completamente perdida em um mar de comilança.
Somando a um monte de outros fatores - vide ansiedade - comecei a ter uma espécie de sintoma estranho - parecia que eu ia desmaiar e achava que era pressão baixa. Naquele tempo - uns 20 anos atrás - o nome Depressão e Síndrome do Pânico estavam ainda meio ocultos, quase despontando como reconhecida doença. E eu sempre achando que era pressão baixa...
A coisa começou a piorar. Teve vezes de eu correr pro PS com a sensação que ia desmaiar, coração disparado... Eu chorava, falava que não queria morrer do coração - esse era meu medo maior no pânico - e tomava soro e um ansiolítico, o que me acalmava. Obviamente aquilo foi piorando.
Num belo dia eu estava na igreja, normal, tranquila. No fim do culto, conversando, olhei para o lado e vi como aquelas listras coloridas de tv quando saía do ar no canto dos olhos. E aquilo não saía... meu corpo reagiu de tal maneira que fixou, juntamente com o desânimo. Lembro que ia buscar as crianças na escola passando mal, zonza, tentando me convencer que aquilo não era nada... Em vão.
A solução foi procurar um psiquiatra, que me disse que não era nada real... O que eu tinha era depressão e síndrome do pânico. Comecei um tratamento com Antidepressivo Serenata e Ansiolítico Altrox 0,5. Fui "melhorando" devagar, ainda com crises gigantes de pânico no meio disso tudo.
Um certo dia tive alta. Outro certo dia voltei pro psiquiatra. E recomecei o tratamento.
Ponderando tudo o que tinha passado e fazendo uma reflexão, fiz algo que não aconselho ninguém a fazer: parei o tratamento por conta. Se eu não tinha nada e o calmante me tirava das crises de pânico, pra que me entupir de remédios?
Foram muitas vezes de crise, eu medindo minha pulsação acelerada, o medo de morrer, as orações pra Deus... Graças a Deus minha família me ajudou muito, principalmente meu irmão Alessandro e meus filhos... Eu fazia de tudo pra que eles não percebessem, mas era difícil... Lembro que emagreci muito, pois por causa da depressão não conseguia comer...
A coisa foi se ajustando aos poucos, bem lentamente. Procurava me distrair quando a crise vinha, voltei a trabalhar após 11 anos cuidando dos filhos... Lembro que voltava no ônibus em crise, mas só de pensar que eu tinha o calmante na bolsa e aquilo me faria melhorar, minha mente dava um refresco. Algumas vezes tomava no ônibus, sem água, sem nada, tamanho o desespero.
Eu perdi amizades importantes no processo - pessoas que não entenderam meus surtos e acabaram se afastando - mas sinceramente? Não as culpo. Não é todo mundo que entende um depressivo. As pessoas que menos esperava acabaram me ajudando, me dando força e hoje as tenho em alta conta. Gratidão.
Hoje tenho o pânico sobre controle - ainda tenho o calmante na bolsa, mas as ultimas vezes que tomei foi no jogo da Libertadores em 2012, entre Corinthians x Boca Jrs, na final (kkkkkkkkkk) e quando viajo de avião - aí é por nervosismo mesmo!
Mas tem aquele velho e conhecido problema: a depressão grudou em mim e de vez em quando ela aparece pra me por no chão... Deixou marcas tão profundas que tem certas coisas e pessoas que não tenho sentimento algum: não sinto absolutamente nada por elas... Isso é muito ruim. Eu sou muito apegada às pessoas que me cercam, mas quando meu coração vira pedra não sobra nada de sentimentos. Triste.
Meu apego a Deus me ajudou. Deus sempre foi maravilhoso e cuidou de mim como ninguém jamais cuidou. Eu creio que isso me ajudou a crescer em alguns aspectos espirituais, com certeza!
O treino, musculação, caminhada, corrida me ajudaram. Canalizei minha vida física em emagrecer e acertar algo que sempre me incomodou: meu peso.
Hoje ainda sofro com a depressão quando ela bate no meu ombro e avisa que ainda ta ali. Muitas vezes to no trabalho e até peço socorro nas redes sociais. Mas sabe? A maioria das vezes que ela me avisa que ta chegando, eu faço a coisa que dá certo: vou caminhar e falar com Deus. Um santo remédio!
Meu caso ainda é leve perto do que já vi por aí. Pessoas se suicidando (em Bauru teve um caso de uma pessoa da alta sociedade tacando fogo no corpo com dinheiro junto por conta disso), morrendo de medo de multidão, sem sair de casa... Inclusive eu resolvi fazer esse post após uma reportagem sobre um rapaz que se matou em decorrência disso... ele simplesmente cansou de lidar com as constantes crises que tinha. Isso é muito triste.
Quem nunca teve imagina que é uma frescurinha, um faniquito, como diria minha avó. Já ouvi muita bobagem de pessoas que, infelizmente, mais tarde, vieram a ter também. Queridos, nunca, mas nunca mesmo duvidem de quem tem deprê e pânico. Isso é sério, muito sério. Ouço uma frases e leio no Face pra gente se afastar de pessoas negativas e depressivas, mas olha... não concordo não. Pode ser pesado, mas o que mais precisam é de apoio.
É isso. Por mais doído e pesado que seja, sempre apoiem quem tem deprê e pânico. Consome? Consome. É ruim? É ruim. Mas muitas vezes meu socorro vinha de pessoas conversando comigo. Ninguém sabe o tamanho da tristeza que enche nosso peito nas crises.
Só nós sabemos.
Beijos!
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